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Arquitetura Existencial: redesenhando um novo envelhecer

Ainda carregamos no corpo e na mente um modelo de vida herdado de nossos pais e avós: primeiro aprendemos, depois trabalhamos e, ao fim, descansamos. Uma sequência quase sempre linear, clara, previsível, como se o tempo humano pudesse ser guardado em três gavetas estanques.

Esse roteiro fazia sentido quando a expectativa de vida era curta e os ciclos sociais obedeciam a ritmos mais rígidos. Mas hoje vivemos mais, e, talvez mais importante, vivemos de forma mais complexa, mais imprevisível e múltipla. O paradigma de uma vida tricompartimentada já não nos serve.

O aumento da longevidade nos convida a pensar uma outra arquitetura existencial: menos rígida, mais orgânica; menos estrada reta, mais jardim. O New Map of Life, proposto pelo Stanford Center on Longevity, aponta que não basta viver até os 80, 90 ou 100 anos, é preciso viver com sentido, com presença e com vínculos que sustentem nossa presença no mundo.

Essa nova cartografia da vida pede que distribuamos aprendizado, trabalho e descanso ao longo de toda a existência, como ciclos que se renovam e se entrelaçam. Aos 60, não estamos no epílogo; muitas vezes, estamos no início de novos capítulos tão criativos, férteis e transformadores quanto qualquer juventude.

O envelhecer, assim, deixa de ser um fim e passa a ser território vivo: um espaço para reinventar papéis, abrir janelas, restaurar alicerces e cultivar novas paisagens internas. Não se trata apenas de prolongar o tempo, mas de ampliar a experiência, permitindo que a identidade siga plástica, mutável e poética.

Repensar o envelhecer é, no fundo, um exercício de criatividade. É reconhecer que cada fase da vida pode abrigar novos começos. É aceitar que nosso mapa não está pronto e que nossa casa interna pode ser redesenhada, tantas vezes quanto for necessário, para que possamos viver com liberdade, cuidado, autenticidade e imaginação.

Com carinho,

Dalissa

Belo Horizonte, 14 de agosto de 2025.

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