Hoje, recebi a notícia de que meu cliente partiu…
No primeiro momento, fiquei perplexa. Em seguida, um calor e uma pressão no peito tomaram conta, acompanhados de uma lágrima tímida e solitária.
O dia foi correndo e, com ele, minhas checagens constantes. Eu queria verificar o que estava ali, me acompanhando.
Quando fiz uma pausa, ao meio-dia, escolhi um cantinho que gosto e fiquei ali, quieta, fazendo companhia para aquela sensação turva, estranha, porém presente.
Conforme fui abrindo mais e mais espaço para o desconhecido, fui me recordando dos nossos encontros, da relação terapêutica singular que construímos ao longo do tempo. Lembrei-me do seu rosto, das suas angústias, lágrimas, do seu sorriso, da sua gargalhada…
E, de repente, bingo! Me dei conta de que, de alguma forma, eu me tornara guardiã de muitas das suas pérolas, dos seus tesouros, de fragmentos e nuances do seu existir, que são especialmente capturados pelo olhar interessado e disponível do psicoterapeuta.
Me emocionei, lembrando da sua entrega ao seu processo, e me senti grata por ter tido a oportunidade de acompanhá-lo. Talvez tenha me dado conta, em certa medida, de que a psicoterapia transcende o tempo e o espaço e permite que o encontro permaneça vivo dentro de quem o vivenciou.
De certa forma, a nossa conexão seguirá viva em mim, fazendo-me recordar que somos passagem e transcendência, e que, por isso, vale muito a pena buscar viver a vida sendo quem se é.
Dalissa
Belo Horizonte, 23 de outubro de 2024.