CONFIDÊNCIA MINEIRA
Texto de Antônio A. F. COPPE e ESCÍPIO da Cunha Lobo
“ Minas, seu nome é Liberdade”
“ Liberdade, inda que tarde! ”
No seio das montanhas de Minas, cultiva-se e cultua-se a Liberdade. Liberdade e
Compromisso. Liberdade de ser, de pensar, de se expressar… Compromisso consigo
mesmo, com sua causa, com sua terra, com o seu povo. Solidariedade. Consciência de
seu lugar, de seu papel, de sua missão no destino da Nação.
O Silêncio do mineiro é um prosear consigo mesmo. É a busca de sua
interioridade. É a volta às suas raízes. E é essa introspecção o caminho para a
transcendência de si mesmo e uma abertura à possibilidade de encontro com o outro.
A própria desconfiança, presente no cerne da mineiridade, acaba por se
transformar no fundamento de um relacionamento humano mais seletivo, mais
pessoal, e mais significativo, onde uma gama de emoções e sentimentos, possibilita a
criação de vínculos mais consistentes, mais profundos, mais duradouros.
O dom conciliador, inerente ao mineiro, pode se constituir no embrião de uma
atitude integrativa, de mediação e de síntese.
Todo esse espírito, base da tradição mineira, evidencia-se na prática da
Psicologia Humanista, nas Minas Gerais.
A Psicologia Humanista acredita em uma tendência à autorrealização, presente
em todo organismo vivo, bem como, em um mecanismo de autorregulação, o que
propicia ao indivíduo um desenvolvimento em harmonia com o seu meio. Em função
deste princípio, ela aposta nas forças construtivas do ser humano; renuncia à
reificação e ao controle das pessoas, comprometendo-se com um profundo respeito à
liberdade pessoal.
Por outro lado, a Psicologia Humanista reconhece que nenhum organismo é
auto-suficiente, consequentemente, para que aquela tendência se realize, o indivíduo necessita de condições específicas, sem as quais o seu desenvolvimento estará
fatalmente prejudicado.
Neste contexto, tanto em psicoterapia, em educação, bem como nas organizações
em geral, o trabalho do psicólogo deve dirigir-se, fundamentalmente, à identificação e
ao provimento destas condições.
A primeira delas caracteriza-se pelo reconhecimento do indivíduo como pessoa,
pelo respeito à sua singularidade, ao seu processo e, acima de tudo, à sua autonomia.
Uma outra condição consiste no processo de humanização e socialização do indivíduo,
que se constitui em sua iniciação à dimensão simbólica, à linguagem. Uma última
condição implica na experiência de uma relação genuína, onde o outro se coloca
verdadeiramente, diante dele, como pessoa.
Para que o psicólogo possa oferecer estas condições, ele deve estar
profundamente comprometido consigo mesmo, com o outro, com o mundo, com o seu
tempo…
Na sua preocupação, constante, com a totalidade (holismo), a Psicologia
Humanista é um movimento que busca a integração e a transcendência das diversas
contribuições para a compreensão do Homem.
De tudo isso resulta a possibilidade de um casamento fecundo entre o espírito de
Minas e a essência desta Psicologia.
Desde o princípio da década de 60, Minas Gerais tem sido o “locus” de um
movimento humanista, dentro da Psicologia. Esse movimento foi iniciado por um
grupo de psicólogos de Belo Horizonte, identificados com esses princípios, valores a
atitudes. Todavia, a discrição do mineiro tem adiado uma expansão maior deste
grupo, bem como um maior intercâmbio com outros centros do país.
Hoje, porém, aqui e agora, em nome desse grupo, estamos propondo o início
desse diálogo, através desta primeira confidência mineira, uma confidência
humanista!
(Texto lido na abertura do Iº Encontro Mineiro de Psicologia Humanista – Belo Horizonte – em 18 de novembro de 1993).