Como anda sua proximidade com você mesmo?
Vivemos em um mundo que não se limita a um espaço geográfico. Estarmos no mundo implica em fazermos parte de uma tessitura de relações significativas. Ao longo da vida, nós construímos, destruímos e reconstruímos essas relações, que incluem a nossa relação conosco. Quantas vezes você já se reinventou? A vida com frequência nos convida a este movimento, por meio do que popularmente chamamos de crises. Os constantes desafios nos convocam a voltar nossa percepção para nós mesmos no aqui e agora, sendo brechas de luz que podem nos tirar do piloto automático. Quando qualificamos nossa presença, esses convites podem nos levar a mergulhos internos profundos e a experiências transformadoras.
O pleno contato conosco, vivido de maneira positiva, leva à apreciação de nossa própria companhia. Esse estar confortavelmente só, seja por escolha, circunstância ou obrigatoriedade, é chamado de solitude. Neste estado, como gostamos e cuidamos de nós, acessamos a possibilidade de também gostarmos e cuidarmos de outras pessoas. A solitude se difere da solidão: uma distância de nós mesmos. Nesta perspectiva, nos sentimos sozinhos mesmos estando em meio a uma multidão. A partir disso e levando em conta que todas as companhias nesta vida são temporárias, exceto a nossa própria, pergunto: como anda sua proximidade com você mesmo?
Quando fazemos uma coisa pensando em outra, não sentimos o que se passa dentro de nós. Excessos de pensamento ou a obstinação em seguir modelos e expectativas de fora também nos privam da percepção interna e podem levar a estados de ansiedade e a uma mistura do que é nosso e do que pertence às outras pessoas. Por outro lado, pausas propiciam uma aproximação de nós mesmos e levam a uma clareza maior do que sentimos e, consequentemente, a melhores escolhas de como agir. É como a música, que é feita pelos silêncios. Se todos os instrumentos tocassem ao mesmo tempo, seria o caos. É o vazio que abre espaço para o novo. Ele permeia a solitude e dá lugar para a poesia da vida: o eterno vir a ser.
(Texto produzido pela estagiária e graduanda em Psicologia Thaís Mendes Gomes – Equipe CPH MINAS)